quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A MENTIRA DE ESTIMAÇÃO

Que mal faz uma mentira? “Foi por uma boa causa”; “Eu não tinha outra escolha”; “Foi para proteger a pessoa”; “Teria sido muito pior se tivesse contado a verdade”.

Quantas desculpas são apresentadas para sustentar as pequenas mentiras do dia a dia! Diante de tantas desculpas, talvez até nos convençamos de que, afinal, mentir não é algo tão grave assim. Não existem aqueles que ‘mentem que nem sentem’? Esse é o resultado de nos acostumamos de tal forma com as mentiras, com esse pecado de estimação. Mas, se acreditamos que “... Jesus é o caminho, a VERDADE e a vida”, o que nos impede de agir conforme aquilo que dizemos acreditar?

Você já mentiu hoje? Seja honesto. Já passou alguma informação distorcida, exagerada ou enganosa pela internet ou no meio em que convive? Já assinou o ponto fora de hora? Quantas desculpas você já deu de atrasos, pequenas infrações? E quando a mentira tem a finalidade de evitar que alguém se decepcione ou fique magoado contigo?
Mas como a mentira entra em nossas vidas? Como aprendemos a mentir? Algumas questões são úteis para você deixar definitivamente a mentira de lado. Na sua família existe o hábito de justificar as coisas com pequenas mentiras? Quando alguém telefona para sua mãe e ela não quer atender, como você respondia a quem ligou? O que te orientavam falar? Pois é, são essas pequenas mentiras, aprendidas muitas vezes até mesmo em família, na orientação dos pais para os filhos, ou em seu modelo que formam a base do hábito de mentir. Um hábito que os próprios pais estabelecem, mesmo não querendo.

Talvez seja possível perceber, com um pouco de honestidade ao avaliar as situações em que mentimos, que muitas vezes isso acontece por não sabermos como fazer o certo. Mas será que essa é uma desculpa para não nos empenharmos em melhorar? E se nos propusermos a melhorar, o caminho é um só: Aprender a falar sempre a verdade, por mais difícil que seja. Ouvi, certa vez, uma senhora dizer que “A verdade, quando dita com ternura, nunca prejudica a ninguém”.

A mentira serve para encobrir os fracassos. Fracasso que experimentamos quando erramos, quando optamos pelo ‘mal’, quando justificamos nossas incoerências, quando não conseguimos fazer o bem que gostaríamos (Rm 7, 19), quando não conseguimos expressar de forma clara, objetiva e direta o que sentimos, o que pensamos, o que esperamos, o que gostaríamos. Quantas vezes fugimos de situações constrangedoras dizendo estar ocupados, cansados ou doentes? Quantas vezes foi necessário recorrer às mentiras para esconder nossa dificuldade em dizer ‘não’?

Ser sincero parece ser mais difícil, nos expõe mais. Se você conhece a alegria de uma relação transparente com certeza iria optar por assumir suas fraquezas e dificuldades. Mentiras ‘brancas’ ou ‘pretas’, ‘leves’ ou ‘pesadas’. Não importa. Se você quer buscar a vida, é preciso buscar a verdade. Essa é a busca que nos abre as portas para descobrirmos o que há de melhor em nós, e que muitas vezes desconhecemos: os dons que nos foram agraciados para, com eles, lidarmos com todas as dificuldades (ternura, paciência, brandura, etc). Não podemos mais ser coniventes com a mentira.

O principal problema para o mentiroso é a recusa em reconhecer-se um mentiroso. Assim, talvez seja o momento de rever as perguntas iniciais. Identificar as mentiras na sua vida, identificar as mentiras que você vive. As mentiras que você conta para si mesmo. Pensar nas causas, mas principalmente, assumir a sua responsabilidade por uma conversão, por uma mudança. Observe-se. Identifique as mentiras. Analise o motivo, a dificuldade em se comprometer com a verdade naquela situação. Proponha-se então a enfrentar essa dificuldade.

A alegria consiste em viver reconciliado com sua realidade, sem fugas, sem esquivas, sem desculpas, portanto, sem mentiras. Ser livre consiste em assumir as conseqüências dos nossos atos. Por pior que seja a realidade, as verdadeiras ervas daninhas são aquelas que você cultiva no seu coração, quando foge de viver o que sua realidade te oferece.

E só para finalizar: Aquela história de “no dia que ele mudar, eu mudo” muitas vezes é um tipo de mentira também. Portanto, não olhe para o outro, mas para aquilo que hoje, em você precisa encontrar a verdade.

Cláudia May Philippi – Psicóloga Clínica