
“Perseguem” a criança por medo de que algo de ruim aconteça: “Não suba a escada”; “Não ande descalço”; “Não pegue na areia”; “Não coloque a mão na boca”... Esquecem-se de que as dificuldades e os perigos fazem parte do dia-a-dia, e farão até o último dia da existência humana. Superprotegendo, tornam o filho incapaz de enfrentar essas dificuldades e as que virão; o filho acostumado à superproteção, ou fugirá dos problemas, sem resolvê-los, ou chamará sempre alguém para ajudar, porque não desenvolveu capacidades como originalidade, criatividade e iniciativa. Terá dificuldades em orientar-se sozinho, fazer escolhas, porque foi acostumado a obedecer passivamente aos comandos maternos ou paternos: “Cuidado para não se queimar; vista o casaco para não se resfriar; cuidado com as suas amizades...”.
Prejuízo ainda maior, conseqüência da superproteção, é a atrofia da capacidade de viver em doação mútua. Porque, se o pai, ou a mãe, concede, faz e ordena tudo, não há espaço para a generosidade, o altruísmo, a autonomia. Infelizmente, o filho exigirá cada vez mais receber, esperará sempre mais passivamente e não experimentará a alegria que existe no dar, no servir, no sair de si. Egidio Santanchè, pediatra e pedagogo italiano, diz a esse respeito que os pais “devem cortar efetivamente o cordão umbilical logo nos primeiros anos de vida do filho, alegrando-se por ele viver em um espaço independente, separando-se e até se opondo a eles...
Os perigos serão muito maiores se o filho estiver despreparado e ‘pela metade’...devido às contínuas interferências, aos conselhos enfadonhos, além daquelas acusações de ‘olhe tudo o que, com sacrifício, faço unicamente para você'"
Referência Bibliográfica:
Santanchè, Egidio. O mundo desconhecido das nossas crianças. São Paulo: Cidade Nova, 1994.
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